Um homem chamado ove, de Frederik Backman

Quando, em meados de 2015 a editora Alfaguara trazia a obra do sueco Frederik Backman, pouco se falava no Brasil sobre esse autor que posteriormente emplacaria outros sucessos na lista de livros mais vendidos. À época Um homem chamado ove já era um grande best-seller com mais de 650 mil exemplares vendidos e uma adaptação lançada na Suécia. Logo nos questionamos o que será que havia de tão espetacular para tanto sucesso?

Na obra encontramos Ove, um senhor metódico de 59 anos de idade que teve a sua vida marcada entre o antes e o depois da chegada de sua esposa, a qual tinha grande estima. Tinha, isso porque, após uma luta perdida de quatro anos, sua esposa Sonja faleceu vitima do câncer. Uma dor profunda se alastrou no peito de Ove e a vida para ele perdeu o sentido, uma vez que vivia em função de Sonja e com quem compartilhava praticamente tudo. 

O senhor vive num condomínio cheio de regras que faz de tudo para que os outros sigam para manter a harmonia do local. Foi ali que ele construiu a vida com Sonja, sua residência e o relacionamento de amizade e desentendimentos com os vizinhos. Pela grande dor e estar solitário, ele decide que irá tirar a própria vida e acabar com o sofrimento, porém, descobrirá que nem sempre conseguimos alcançar alguns objetivos e que novas relações podem construir motivos para seguir em frente.

Ove é um homem de muitas vivências. Ao longo do romance percebemos sua paixão por carros, característica essa que o faz amar a marca Saab e julgar a personalidade dos outros somente pelo modelo de carros que possuem. Da mesma forma não quer ser passado para trás e tenta se atualizar em relação a tecnologia. Ele também dá muito valor aos trabalhos manuais e a sabedoria que é passada de geração para geração. É por isso que Ove sempre está sendo chamado para trabalhos de reparação domestica, trocar um pneu e até mesmo estacionar um carro corretamente. Há aqui uma forte critica a fragilidade e falta de conhecimentos técnicos que as novas gerações possuem e que mostrará ao nosso personagem que ele, apesar da idade e da falta da esposa, ainda pode ser muito útil para os que estão à sua volta. Um gato e a recém chegada de uma família iraniana na vizinhança construirão laços com um senhor que havia perdido o desejo de viver.

O luto em Um homem chamado Ove é um tema central, porém, apesar de ser uma assunto tabu e muito melancólico, é perceptível a capacidade do autor em fugir do comum e ir por um caminho que não torna a leitura extremamente triste ou tocante no sentido de nos deixar para baixo. Mas muito pelo contrário, o autor na maioria das vezes vai pelo lado da descontração para mostrar que, apesar da idade avançada, apesar das perdas que vamos tendo ao longo da vida, é possível sim se apegar a novas perspectivas, à novos laços para dar continuidade a nossa existência. E principalmente encontrar pontos em nós mesmos de utilidade para não nos sentirmos inúteis e sem ter como contribuir para a sociedade de forma geral. Isso porque existe a falsa crença de que pessoas, quando chegam a uma determinada idade, estão fadadas apenas a serem colocadas de forma isolada em asilos, o que dão a entender que elas não têm mais serventia e as excluindo da sociedade; o que nem sempre é uma das melhores opções.

Ove é daqueles idoso rabugentos que trata os outros com aversão, quer estar na sua, mas que nunca se nega a ajudar quando é chamado, uma espécie de personagem que criou para si a fim de esconder o seu real interior, uma pessoa, que apesar de tudo, tem um bom coração e nos envolve com o sentimento de que já é um bom e velho amigo.

É uma narrativa bonita, singela e tocante da melhor forma possível, além de tudo o autor fez uma história redonda, nos imergimos na vida do personagem por inteiro e saímos dela com a sensação de que foi uma vivência rica e que deixou sua marca na vida dos outros a sua volta.

A título de curiosidade, este romance foi adaptado duas vezes para os cinemas. A primeira, como já mencionado, é a sua versão sueca, de 2015, dirigida por Hannes Holm e com Rolf Lassgård no papel principal. Essa adapatação rendeu duas indicações ao Oscar de 2017 (Melhor Filme Estrangeiro e Maquiagem e Penteado). Já a regravação hollywoodiana de 2022, que recebeu o título pouco chamativo de O pior vizinho do mundo, conta com direção de Marc Forstere e Tom Hanks na pele do Ove.

A obra também ganhou uma nova edição com a Editora Rocco, contendo a mesma tradução de Paulo Chagas de Souza

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Ficha técnica: 

Título: Um homem chamado Ove| Autor: Frederik Backman | Título Original: En man som heter ove | Tradução: Paulo Chagas | Editora: Alfaguara | Edição: 1 | Ano: 2015 | Gênero: Romance sueco| Páginas: 526 | ISBN: 9788579624278

Resenha de número: 447


 

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2 Comentários

  1. Eu adoro o autor e quero muito ler esse livro, antes até de conferir a adaptação
    https://www.balaiodebabados.com.br/

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  2. Pedro, eu ainda não li nenhum dos livros do autor, mesmo conhecendo todos e me interessando pelos enredos. Mais um texto belamente escrito e nos faz desejar mergulhar na leitura assim que concluímos sua resenha! Você sabe que amo livros que emocionam e os pontos que a obra toca são bem interessantes. Espero ler esse e os demais livros do autor.

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