É caminhando que se faz o caminho, de Thélio Queiroz Farias

Ao longo da história, o ser humano foi criando sistemas de escritas. A principio ilustrações cheias de significados deixadas nas paredes de cavernas, posteriormente cuneiformes mesopotâmicos, hieróglifos egípcios e atual alfabeto latino. As plataformas foram diversas, de tabuletas de argila, a óstraco de cerâmica, papiro de planta, até chegarmos aos papeis que conhecemos hoje. Fato é que o surgimento da escrita é um marco na evolução humana, isso não só transformou a forma de comunicação, como possibilitou o registro físico dos costumes e vivências. Aliado às explorações, surgiram então os diários de viagens onde, os navegantes e exploradores, relatavam as excursões mundanas e o que aprendiam. 

Fascinados pelo novo, esse tipo de relato passou por transformações e a ser enquadrado num gênero literário chamado Literatura de Viagem. Não se trata da pura ação de registra uma jornada tecnicamente, mas engloba prosa, poesia, crônica, podendo ou não mesclar o relato não ficcional com a ficção. Exemplos disso são os 'Poemas escritos na índia', de Cecilia Meireles, 'Relato de um náufrago', do Gabriel García Márquez, 'As viagens' de Marco Polo, 'Paris é uma festa', de Ernest Hemingway, 'A arte de viajar',  de Alain de Botton, 'Amazônia: Um paraíso perdido', de Euclides da Cunha, 'Viagem a Portugal', de José Saramago, as obras de Aírton Ortiz... ad infinitum. 

'É caminhando que se faz o caminho', do escritor paraibano Thélio Queiroz Farias, também é um dos que se enquadram no gênero narrativas de viagens. Fruto das experiências de andanças pelo mundo no decurso de sua vida, o autor se volta para cada ponto dos continentes visitados (África, Ásia, Europa, Oceania, América), se valendo dos mais diversos meios de transpostas, para detalhar emocionadamente, de forma geral, o que melhor conheceu. 

Através de seus escritos, entramos pela burocracia da sala de embarque para dar partida em suas contemplações pelo mundo. Viajamos pelo o horror do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia; uma hospedagem num fusca transformado no menor hotel do mundo, na Jordânia; alguns drinks no Carousel Bar, único bar giratório de Nova Orleans, nos Estados Unidos; visitamos Fundação José Saramago, em Portugal, com direito a simpático encontro com a esposa do escritor,  Pilar del Rio; já Brasil, a visita a casa de Jorge Amado e ao livreiro manauara que tem como cliente o escritor Milton Hatoum... entre tantos outros lugares interessantes, dirigindo ao final o olhar para suas origens, quando escreve um belo e completo perfil da cidade de Campina Grande, na Paraíba, inflamado pela célebre frase de Tolstói: "para ser universal é necessário falar de tua aldeia".

Apesar de não se tratar de um guia turístico (no sentido mais estrito), as crônicas aqui dispostas são ricas em informações e curiosidades, podendo ou não serem dicas seguidas pelo leitor que quiser se aventurar pelo mesmo percurso, mas o grande diferencial, além disso, é que se tratam das experiência únicas vivenciadas pelo autor: sua felicidade diante do sorriso largo dos cubanos, o sentimento de claustrofobia nos túneis vietnamitas, os deslumbramentos no 'Garden by the bay', a comoção pela generosidade dos jordaniano, a surpresa por ser presenteado com LIVROS por um LIVREIRO, entre tantos outros que tocará aqueles que também são "refém dos afetos".

Este livros, aliás, não é apenas sobre lugares, contudo é fundamentalmente sobre nativos e estrangeiros, chegando o próprio autor a conclusão de que o melhor dos lugares são as pessoas, responsáveis essas por diminuírem as distâncias fronteiriças por meio do simpatia, do afeto, e despertam a crença de que na verdade somos um povo só, próximos apesar das diferentes culturas e os conflitos guardados. 

Sendo Thélio Queiroz Farias leitor ávido e titular da cadeira de nº 23 da Academia de Letras de Campina Grande, embarcar em sua obra significa realizar uma viagem dupla. A primeira pelas paisagens e lugares narrados com rica em paixão; a segunda através da literatura citada pelo autor e que muito acrescenta ao texto. Aqui, ele nos mostra como a literatura está ligada aos lugares, histórias e relatos, abarcando com maestria todas as suas referências. Dificilmente saímos sem algumas leituras anotadas para "viajar".

Com apresentação do escritor português José Luis de Peixoto, e textos extras do professor e escritor paraibano José Mário da Silva e da escritora e artista plástica Paloma Jorge Amado (filha do autor de Capitães de Areia), o livro conta com uma edição gráfica de muito bom gosto e alta qualidade, ricamente ilustrado com fotografias dos pontos visitados. Bem como característica dos relatos de viagens, é através de livros como 'É caminhando que se faz o caminho' que vamos compreendendo o outro e a imensidão do mundo, num sentimento de que estávamos compartilhando a mesma jornada que o autor.

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Ficha técnica: 

Título: É caminhando que se faz o caminho | Autor: Thélio Queiroz Farias | Editora: Jaguatirica | Edição: 1 | Ano: 2022| Gênero: Crônica / literatura de viagem | Páginas: 208 | ISBN: 9786586324853

Resenha de número: 448

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10 Comentários

  1. Oi Pedro.
    Livros desses gêneros que apresenta vários lugares e suas culturas através de crônicas, eu li apenas um e até achei bastante interessante. Mas este livro que você resenhou, contém mais conteúdo do que eu li. Espero ter uma oportunidade de lê-lo para saber mais sobre lugares que o autor mencionou.

    Bjos

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  2. Olá, tudo bem? Livros do tipo é que nos traz aquela percepção, de viajar sem sair do lugar. Eu amo conhecer novos mundos, novos lugares e países através da literatura, e com esse título, com certeza terei uma experiência diferente. Adorei a dica, acerca, e até mesmo a forma como autor aborda cada lugar que visitou, sendo algo ímpar. Dica super anotada!
    Beijos

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  3. perfeito, um guia que o objetivo não é ser guia, é falar, escrever e apresentar, seja ao leitor que não conhece ou o leitor que pode se reconhecer ali. gostei.

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  4. Oi, tudo bem?
    Eu não conhecia o livro ainda, mas primeiro preciso destacar que pelas fotos a edição parece ser muito bonita. Fiquei encantada! Como eu adoro viajar, conhecer novos lugares e culturas, gosto muito de livros que tragam esse assunto. E, pelo que você falou, me deu a sensação de que com essa leitura a gente se sente vivendo aquelas mesmas experiências com o autor. Adorei a indicação e vou adicionar na lista.
    Beijos!

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  5. Oi, tudo bem? Gente que edição mais linda, fiquei encantada com o trabalho gráfico. Impossível não se encantar à primeira vista. Desde criança mudamos muito de cidade/estado e isso criou em mim um alma desbravadora. Não consigo ficar muito tempo no mesmo lugar, sempre parece que falta alguma coisa. Viver novas experiências, conhecer outras culturas, experimentar o novo. Sempre acreditei que viajar nos enriquece de tal maneira que as vezes é difícil transformar tudo isso em simples palavras. Cada vez que saimos, voltamos uma pessoa diferente e isso me encanta. Gostei muito da proposta do autor. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Oi, tudo bem? Gente que edição mais linda, fiquei encantada com o trabalho gráfico. Impossível não se encantar à primeira vista. Desde criança mudamos muito de cidade/estado e isso criou em mim um alma desbravadora. Não consigo ficar muito tempo no mesmo lugar, sempre parece que falta alguma coisa. Viver novas experiências, conhecer outras culturas, experimentar o novo. Sempre acreditei que viajar nos enriquece de tal maneira que as vezes é difícil transformar tudo isso em simples palavras. Cada vez que saimos, voltamos uma pessoa diferente e isso me encanta. Gostei muito da proposta do autor. Um abraço, Érika =^.^=

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  7. Caramba, Pedro... Que leitura esplêndida. Eu admiro muito que a pessoa além de ser autor, criar universos, línguas, relacionamentos, naturezas... ainda tenha esse dom da pesquisa, de concatenar dentro de algumas centenas de páginas a história de diversos lugares do mundo. Acredito que ter um livro desse na mala quando alguém se joga para dar a volta ao mundo deve ser um prato cheio.
    Fiquei realmente encantada com o que você e o autor nos apresentou. Não conhecia nem o livro, nem o escritor.
    Grande abraço

    Carol Nery | Coisas de Mineira

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  8. Oi, Pedro! Mais uma vez uma resenha precisa. Conheço a editora, mas ainda não conhecia esse livro, verei se tem no ubook disponível para leitura. Quando vi em negrito José Luis de Peixoto foi um chama para mim, sou encantada com o autor, e quero embarcar nessas palavras que trazem cultura, espaço geográfico, ideias e afetos...

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  9. Michel de Certeau nos convida a conhecer os saberes, os sabores, os lugares, as culturas, enfim. O agora imortal da Academia Paraibana de Letras, o advogado Campina Grandense Thélio Farias, nos presenteia e nos convida, não só aos paraibanos, mas a todos, sem fronteiras geográficas, a conhecer suas andanças e seus aprendizados, os odores dos lugares, suas belezas; mas também suas singularidades. Sim. A globalização ainda não conseguiu ultrapassar as singularidades. Desejo vida longa a esse novo imortal Campina Grandense que enche de orgulho a Serra da Borborema. Obrigada Dr. Thélio Farias. Campina Grande e a Paraíba lhe deseja que todos os deuses do conhecimento lhe abençoe e lhe proporcione mais inspiração para escrever sobre a História da Paraíba e de muitos lugares como nos presenteia com seu livro É caminhando que se faz o caminho. Muita luz no seu caminho. Profª Liège Freitas

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