Desde de as primeiras páginas de Cloro, novo livro de Alexandre Vidal Porto, sabemos que Constantino, o personagem central da trama, está morto. O mesmo se encarrega de nos revelar o que lhe ocorreu, mas não sem antes regressar a sua formação pessoal, desde a infância até o dia que deixou de respirar.
"Dizem que a primeira impressão é a que fica, mas isso não me parece correto. Para quem vê você morrer, o último momento é o que vale. É como você se despe do mundo. É como você seguirá na memória de quem fica. Não haverá mais modulação possível." p. 12
Apesar de levar uma vida comum, com um casamento de 30 anos, dois filhos, uma bela esposa e atuar como advogado, esse homem, na casa dos 50 anos sempre negou a si mesmo algo que estava intrínseco em sua existência: a homossexualidade. Constantino, depois de se deparar com situações de homofobia na infância, passou a negar que era homossexual, para isso formou família e levava uma vida "tradicional".
"Durante muitos anos, agradeci a Marcos Bauer o alerta antecipado. El me serviu como aviso de que ser bicha não era bom. Tive tempo de me preparar. Por anos, valorizei esse ensinamento." p. 17No entanto, em um determinado momento o seu desejo falou mais alto e por fim foi em busca de homens para tirar conclusões sobre sua sexualidade, coisa que sua mulher não sabia. Foram três homens: um por meio de aplicativos de pegação, outro garoto de programa e o terceiro Emílio que dividiu com Tino o que pode se chamar de um curto relacionamento de encontros casuais em hotéis diversos pelo Brasil. É o início do desabrochar de um homem adulto, realizando descobertas que não acreditava ser possíveis.
As circunstancias da Morte de Constantino é algo que, mesmo não estando mais presente, o deixa atordoado, pois, sua família e os conhecidos ficaram sabendo de seu segredo e também porque aconteceu num momento constrangedor. Para ele "um cadáver encontrado nas condições em que foi o meu perde todo direito à privacidade.". Esse misterioso é carregado durante toda a primeira parte do livro chamada de "Eu", contada pelo narrador-personagem numa espécie de limbo, já na segunda e última parte, como o título já diz "Outros", temos o olhar dos demais envolvidos acerca do acidente ocorrido.
Por que é interessante ler essa história?
A escrita do Alexandre Vidal Porto é de uma simplicidade que dá gosto de ler; Seu texto é bem enxuto e direto, o que facilita na agilidade da leitura, além disso conta com poucos diálogos e sem grandes floreios. Sua força se concentra em contar-nos a história e levar a reflexão pelos questionamentos que os próprios personagens emulam, em destaque para as questões em torno da morte tanto para quem fica como é o caso de Débora, ao afirmar que "A dor distorce e a morte anestesia. Hoje. agora, para mim, tanto faz. Ainda estou meio anestesiada." (p. 131) ou do próprio Constantino: "Será que a morte é isso, uma escuridão perpétua dentro da gente, uma tentativa sem fim de entender o que aconteceu na vida?" (p. 101).
Mas, mais do que isso, o livro também é um reflexo daquilo que foi delegado à uma geração que não teve escolha, que seguiram uma vida da qual não estavam nenhum pouco felizes em viver, pior, eram prisioneiros de uma ideia implantada que acreditavam ser a certa, a correta, porque outros lhe disseram que a maneira que estavam caminhando antes não era. No caso do narrador, começou em sua infância com os ataques de outas crianças o chamando de "bicha" e mostrando que ser homossexual é algo anormal; mas qual criança deseja ser anormal? Por mais haja repreensão, a sexualidade é algo que, cedo ou tarde, se libertará das amarras que impomos a ela e tentar impedir isso só causará sofrimento, uma vida de apar
ências, de ilusão, como reflete o narrador sobre a dura morte do filho assassinado: "algumas coisas acontece porque é da lógica do mundo que elas aconteçam. Não têm justificativa. Não adianta procurar."
Cloro deve ser lido para compreender esse pequeno detalhe que é crucial no mundo e enxergar a diversidade alheia como algo comum, afinal, até quando as pessoas terão que viver uma vida inventada em nome da moral e dos bons costumes? É um preço justo privar a sua liberdade em nome disso?
Autor: Alexandre Vidal Porto
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
Ano: 2018
ISBN: 9788535931846
Gênero: Romance/ literatura brasileira
Páginas: 152
Resenha de número: 421
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ências, de ilusão, como reflete o narrador sobre a dura morte do filho assassinado: "algumas coisas acontece porque é da lógica do mundo que elas aconteçam. Não têm justificativa. Não adianta procurar."
Cloro deve ser lido para compreender esse pequeno detalhe que é crucial no mundo e enxergar a diversidade alheia como algo comum, afinal, até quando as pessoas terão que viver uma vida inventada em nome da moral e dos bons costumes? É um preço justo privar a sua liberdade em nome disso?
Resenhador por: Pedro Silva
Ficha técnica:
Título: CloroAutor: Alexandre Vidal Porto
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
Ano: 2018
ISBN: 9788535931846
Gênero: Romance/ literatura brasileira
Páginas: 152
Resenha de número: 421
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