O tempo desconjuntado, de Philip K. Dick

Philip K. Dick é considerado um dos principais autores americanos de ficção cientifica de todos os tempos. Com uma vasta obra e premiado com inúmeros prêmios, o autor teve obras adaptadas para o cinema como Blade Runner: o caçador de androides e o Vingador do Futuro. Inédito no Brasil, O tempo desconjuntado chega pela Suma, com tradução de Braulio Tavares.


Em O tempo desconjutado tudo começa com Ragle Gumm, um ex-combatente de guerra que tem  como trabalho resolver uma charada do jornal local. Há mais de dois anos ele vem acertando em qual ponto do mapa o duende verde vai aparecer, sendo realizado inúmeros cálculos com base nas pesquisas que realiza arduamente. Ele envia correios as suas respostas pelo correio e sempre acerta.

Aos 46 anos, Gumm vive numa cidadezinha americana em 1959 junto ao seu cunhado (Vic), a irmã (Margo) e o sobrinho (Sammy). Os vizinhos Bill Black e sua esposa (Junie) sempre estão, de alguma forma, dentro de sua casa confraternizando. Bill não entende como Ragle consegue acertar, no entanto é com o concurso ele se tornou famoso e usa o dinheiro tanto para contribuir na casa quanto economizar.

Tudo ia nos conformes na pacata cidadezinha, porém, coisas inusitadas começam a acontecer ao redor desse homem. Primeiro um interruptor de luz desaparece, depois uma máquina de refrigerantes e no lugar dessas coisas, sempre é encontrado um papel com seus nomes escritos como "interruptor". Como se não bastasse, ele encontra uma lista telefônica com números desconectados e uma revista com uma atriz que ele nunca viu: Marilyn Monroe. Motivado pela busca e por saber o que estão escondendo dele, o homem tenta fugir da cidadezinha a fim de encontrar as respostas de suas dúvidas. Mas ele não espera encontrar algo bem maior do que a pequena existência que leva naquela cidade.


O tempo desconjuntado é uma narrativa instigante e cheia de inventividade. Surpreende o leitor porque é um livro de camadas que vão só aos poucos sendo detalhadas e mostradas. A principio a narrativa se encaminha para uma coisa, mas quando o leitor se dá conta, as questões abordadas por Philip K. Dick são mais profundas do que se esperava.

Aqui entramos em contato com a obra que deu origem ao filme O Show de Truman, porém, enquanto lá o foco é em torno da industria do entretenimento, aqui as questões são em torno de razões militares. A principio tudo parece uma história comum, mas os elementos da ficção cientifica vão se misturando de forma sutil, o que torna o enredo bem verossímil e amarrado.

É um livro de leitura rápida e de fácil entendimento. O principal questionamento que fica após o término, apesar de ser em outros termos, é em o quão nossas existências também são pautadas sem o nosso consentimento ou conhecimento, às vezes seguimos um fluxo que não questionamos e que nem sabemos se realmente é uma decisão tomada por nós mesmos, quando na verdade somos induzidos inconscientemente a tal caminho.


Em tempos de fakenews e pós-verdade, a paranoia que ronda Ragle Gumm é algo que já se faz presente e nos põe a duvidar do real e do que não é real. A nebulosidade é grande, mas procurar a desconstrução dessas inverdades é a nossa constante "fuga".

Me questiono o motivo de não ter lido K. Dick antes, e confirmo a frase que muitos fãs dizem: o primeiro K. Dick é inesquecível. E não vejo a hora de ler outras coisas do autor, como Espere agora pelo ano passado, mais um inédito publicado pela Suma.

Ficha técnica

  Título: O tempo desconjuntado
  Autora: Philip K. Dick
  Tradução: Braulio Tavares
  Título original: Time out of joint
  Editora: Suma
  Edição: 1
  Ano: 2018
  ISBN: 9788556510730
  Gênero: Romance estrangeiro / Ficção Cientifica
  Páginas: 296
  Resenha: #409

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