A delicia e a dor de ser imigrante: 'Hanói', de Adriana Lisboa

     Publicado em 2013, Hanói é o primeiro romance de Adriana Lisboa publicado pela editora Alfaguara, os demais foram reedições dos livros consagrados da autora, como o premiado Sifônia em Branco, Um Beijo de Colômbia e Rakushisha.

     O livro traz dois personagens de origens distintas: David e Alex têm suas vidas entrecruzadas quando o jovem de pouco mais de 30 anos entra na mercadinho que a jovem de 22 anos trabalha. Esses dois personagens principais são fruto de uma miscigenação, onde  apesar de nascidos nos Estados Unidos, possuem também as nacionalidades brasileira e vietnamita.

     Ele tem origen brasileira por parte do pai que foi em busca do sonho americano, e  mexicana pela mãe. Amante do jazz e tocador de trompete, ele recebe o diagnostico de uma doença terminal em estado avançado, e o seu médico, segurando um objeto com o formato de elefante, lhe dá alguns meses de vida. Não há tratamento paliativo, apenas o indicativo de aproveitar o tempo que lhe resta. No entanto, como os elefantes que se isolam no fim da vida, ele esconde a notícia dos amigos, passa a doar as suas coisas, larga o emprego de balconista e pretende faze uma viagem.


     Já Alex tem origens orientais. Sua avô é refugiada da Guerra do Vietnã, e sua mãe é filha de um soldado americano com o qual a avô não tem nenhuma ligação e nunca procurou ter após a chegada aos Estados Unidos. Aos 17 anos, Alex ficou grávida do professor de educação física. Mesmo se envolvendo com um homem mais velho e casado, ela optou por dar continuidade a gestação, se tornou mãe de um menino inteligente criado com a ajuda das mulheres em meio a cultura do país de origem e o pai, Max, apresentado ao filho como um primo distante. Além de cursar faculdade, a jovem trabalha como atendente no mercadinho de  um conhecido de sua família e também refugiado. Nesse mercadinho é que ela conhece David, o homem que está doando as suas coisas porque vai fazer uma "viagem" com tempo e destino indeterminados. Sem saber, Alex acaba dando a David o destino para estar nos últimos dias: Hanói, a capital vietnamita.

   
     As vidas dos dois se misturam de forma inesperada. Isso porque ele não queria dar inicio a um relacionamento quando a sua própria vida estava com os dias contados. No entanto, a vida é algo além do que um plano traçado por nós, e nisso se mostra incontrolável quando nos surpreende em situações adversas que não esperávamos. Assim, começam um relacionamento cheio de afetos, onde ela o guiará por um caminho de aceitação e aprenderá também a aceitar o que a vida oferece e que já não pode de forma alguma ser mudado.

     São retratadas as dores dessas personagens, como as consequências da Guerra do Vietnã sob o ponto de vista do povo local, onde as mulheres que eram abusadas pelos soldados americanos eram acusadas de traição e os filhos gerados dessas relações tinham dificuldades em se introduzir socialmente, a consequência disso foi que tiveram de buscar refugio nos Estados Unidos, país em que sofreram também para se adaptar a uma cultura que não lhe pertenciam, causando o sentimento de deslocamento e impossibilidade. 

     Adriana Lisboa escreve uma história que tende a ter uma atmosfera cheia de tristeza e melancolia, o que poderia ser uma caricatura, acaba por se tornar uma história delicada, tocante, mas na dosagem certa sem querer fazer com que o leitor chore a qualquer custo com uma dramaticidade inverossímil. O final traz cenas serenas, sem descrever tragédia, mas mostrando o desprendimento da vida por meio de novas oportunidades para as pessoas que permanecem vivas influenciadas pelas atitudes que em vida deixamos para elas. E ela conseguiu utilizar uma forma bonita para descrever um fim que já se tornou clichê.


     Hanói possui uma leitura rápida e gostosa, sendo uma ótima oportunidade para conhecer a escrita da Adriana Lisboa.

Ficha técnica

Título: Hanói
Autor: Adriana Lisboa
Editora: Alfaguara
Edição: 1
Ano: 2013
ISBN: 9788579622205
Gênero: Romance brasileiro
Páginas: 240


Avaliação: 

Resenha de número 379

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20 Comentários

  1. Eu não conhecia o livro nem a autora e achei a premissa completamente interessante, gostei de conhecer a obra aqui na sua resenha e acho que se eu for ler eu vou gostar da leitura.

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  2. Oi Pedro, tanto autora quanto o próprio livro, eram desconhecidos para mim, daí eu me dou conta, quanta coisa eu ainda tenho que conhecer e ler.
    Achei a história bem interessante, gosto de um bom drama, com dor e sofrimento e superação.
    Dica anotada.
    Bjos
    Vivi
    http://duaslivreiras.blogspot.com.br/

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  3. Essa é uma das autoras que pretendo ler ainda esse ano, só vejo comentários positivos sobre ela, principalmente sobre essa obra. Já to preparando meu coraçãozinho porque sei que irei me emocionar bastante. Adorei a dica.

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  4. Olá Pedro, tudo bem?
    Eu nunca ouvi falar desse livro, e nem da autora! Fico feliz que você tenha aberto um espaço no seu blog para apresentar esse livro para os seus leitores, eu gostei muito da premissa dele e tenho certeza que vou gostar de ler essa história em breve.

    Beijos e abraços
    http://vickyalmeida.blogspot.com.br/

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  5. Não conhecia o livro e nem a autora, e pela resenha concordo que seria uma boa oportunidade para conhecer o trabalho dela.
    Bjs, Rose

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  6. Olá!
    Parece ser uma obra bem sensível, apesar dos relatos sobre tempos difíceis em meio a guerra.
    Gosto muito de drama nos romances, então me agradaria a leitura com certeza. Talvez se a capa fosse algo mais elaborado chamaria mais atenção, pois só de olha-la não daria nada por essa leitura.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  7. Oi, tudo bem? Fiquei muito, muito interessada no livro, por falar de miscigenação e pela atmosfera ser melancólica. Não conhecia a autora, apesar de eu sempre ir atrás de mulheres escritoras. Vou deixar o livro na minha wishlist <3 Adorei sua resenha, especialmente o último parágrafo :)

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  8. Olá, tudo bem?
    Eu ainda não conhecia esse livro e nem a autora. Confesso que me pareceu ser algo que foge bastante do meu estilo e não fiquei interessada em conferir, ainda mais porque me pareceu uma leitura muito melancólica, algo que tenho evitado.
    No entanto, fico feliz que seja uma leitura tão sensível e que a autora foi habilidosa em não exagerar no drama. Vou passar a dica desta vez, mas gostei muito da sua resenha.
    Beijos!

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  9. Não conhecia o livro (e nem a autora) e achei a trama bem pesada, mas interessante. Fico feliz em saber mais sobre o livro por aqui e sem dúvidas, darei uma chance futuramente. <3

    Sai da Minha Lente

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  10. não conheço nada da autora, mas parece ser uma leitura muito boa
    fiquei interessada
    vou colocar na listinha

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  11. Olá! Não conhecia a autora mas gostei do enredo do livro principalmente por não fazer o leitor chorar pelo excesso de drama! Com certeza eu leria esse livro parece ser ótimo, obrigada pela dica!

    Beijos,
    Conta-se um Livro

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  12. Ola
    Gostei da sua resenha e indicação, no momento estou dando um tempo para livros em que o personagem tem alguma doença, principalmente terminal ( ressaca do gênero após ler um livro).
    Mas em um outro momento vou querer conhecer essa história.
    Bjus

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  13. amei essa capa, Alfaguara sempre arrasa em suas publicações... elementos como jazz me deixam empolgada pra fazer uma leitura heheh
    já ouvi falar vagamente da autora e esse livro super me interessou...
    espero ter a chance de ler logo...
    bjs ^^

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  14. Oi Pedro.
    Eu acho que vou gostar desse livro porque a autora não trata a história de uma pessoa que se descobre com poucos meses de vida de uma forma clichê. Também acho que é um livro pode suscitar muitas reflexões acerca da vida e do amor.
    Excelente sua resenha.
    Abraços.

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  15. Eu conheço Adriana Lisboa e os livros dela de divulgação, mas, infelizmente, não os li. Também já vi a apresentação de um trabalho sobre a escrita dela, fiquei encantada, mas quem dera eu tivesse dinheiro para comprar tudo que quero. Tristeza e melancolia são a minha praia, o contexto do estupro e filhos do estupro também me interessa, certamente mais para frente estarei com os livros dela em mãos. é que geralmente, pego os livros nos sebos e os dela são bem raros nos sebos daqui :(

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  16. Olá, tudo bem? Não conhecia a autora, nem a obra, mas sua resenha me deixou instigada sobre a mesma. A questão de trazer uma história delicada na medida certa me despertou o interesse. Dica anotada <3
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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  17. Oi, tudo bem?
    Eu não conhecia esse livro e confesso que não leio muito obras dessa editora, mas lendo sua resenha fui ficando curiosa com a história. Imagino que seja interessante acompanhar a história desses dois personagens, principalmente porque os dois parecem ser cativantes e a história deles aborda temas interessantes. Bom, acredito que seria uma leitura agradável para mim, gostei de saber que a autora soube construir tudo muito bem e deixou a história delicada e tocante. Enfim, gostei muito da dica, vou marcar!
    Beijos :*

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  18. Olá!
    Me pareceu ser uma leitura rápida e significativa. Vou deixar sua dica anotada. Espero poder ler em breve.
    Beijos

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  19. Oie, tudo bom?
    Não me interessei muito pela leitura, mas achei bacana o enredo principal ter em seu meio uma sobrevivente a guerra do Vietnã. Acho que nunca li nada assim. Quem sabe um dia, se tiver oportunidade, dou uma chance? :)

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  20. Oiee tudo bem?
    Não conhecia o livro e nem a autora, mas a sua resenha me deixou muito curiosa
    essa parece ser uma leitura bem rica e extremamente edificante.
    Fiquei muito interessada
    Beijoos

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