O Rosto de Um Outro é um livro
escrito no Japão pós-guerra pelo autor Kobo Abe, tido como um dos principais
escritores de maior relevância do século XX. Na obra, que não tem uma sinopse
muito mirabolante, acompanhamos três cadernos (um preto, um branco e um cinza)
com anotações escritas por um cientista que, após um experimento químico, perdeu
o rosto afetado pelo resultado negativo do processo.
Os cadernos têm como destinatário a sua esposa, com a qual a relação teve uma mudança depois que o narrador perdeu o rosto. Não só com a esposa, mas também com amigos e estranhos. Na busca de voltar a ter uma vida normal, de agradar a esposa, e também recuperar a confiança de estar em lugares sem ser motivo de interessa e medo para os outros, nosso personagem central passa a procurar uma maneira de reconstruir a sua face. Sendo assim, através de uma longa busca, testando produtos que melhor simulam a pele, — o rosto ideal, o enquadramento perfeito e tudo que o deixe com um aspecto melhor —, ele chega a um resultado final e esperado: uma máscara. O objeto é perfeito, e pode enganar qualquer um. No entanto, ao vesti-la, a sensação que o narrador tem é a de que ela possui vida própria, como, se ao vesti-la, passasse também a ter outra identidade que não a dele; outros desejos que não os seus, e isso afetará tanto a si quanto a esposa, a quem, por meio dos cadernos, o narrador tenta se justificar.
Narrador somente por meio de
cadernos e cartas, O Rosto de um Outro é um ficção cientifica ricamente densa, isso porque
os parágrafos são longos e, principalmente nos primeiros relatos,
demasiadamente técnicos com descrições longas sobre composição química,
reflexões sobre os formatos de rosto e em que isso influência numa pessoa, além
de pequenos relatos dos afazeres do personagem principal na pousada Recanto S., onde se ausentou da esposa para
focar na pesquisa. Por um lado, isso pode parecer entediante, mas não é o que
acontece. A curiosidade que a primeira carta deixa no leitor afasta qualquer
desinteresse que possa surgir, e motivado pela necessidade de saber qual a
confissão do personagem para a companheira, passamos a ler com gosto.
Essas reflexões em relação à mascara nos inquietam. Uma mascara é um objeto simples, muito usado em festas a fantasia de forma banal. Mas a perspectiva que o autor coloca se alça a outro nível ao criar uma mascara perfeita com poder de enganação e que se produzida em grande escala, com uma grande demanda, qualquer um poderia assumir a identidade que quisesse, fazendo com que as noções de confiança, identidade, de reconhecimento, conhecimento fossem totalmente perdidas, pois, em um passe de mágica qualquer um teria a possibilidade de mudar de rosto quando abusasse do seu e desfrutaria da liberdade que a mesma ofereceria. Olhando por esse prisma, notamos que Kobo Abu poderia muito bem ter escrito uma distopia através desse recorte. Mas o que fez foi trazer esse recorte para uma situação mais plausível e próxima da gente, entrando na mente do personagem de forma densa e psicológica. O que fica é o medo desse experimento.
Essas reflexões em relação à mascara nos inquietam. Uma mascara é um objeto simples, muito usado em festas a fantasia de forma banal. Mas a perspectiva que o autor coloca se alça a outro nível ao criar uma mascara perfeita com poder de enganação e que se produzida em grande escala, com uma grande demanda, qualquer um poderia assumir a identidade que quisesse, fazendo com que as noções de confiança, identidade, de reconhecimento, conhecimento fossem totalmente perdidas, pois, em um passe de mágica qualquer um teria a possibilidade de mudar de rosto quando abusasse do seu e desfrutaria da liberdade que a mesma ofereceria. Olhando por esse prisma, notamos que Kobo Abu poderia muito bem ter escrito uma distopia através desse recorte. Mas o que fez foi trazer esse recorte para uma situação mais plausível e próxima da gente, entrando na mente do personagem de forma densa e psicológica. O que fica é o medo desse experimento.
“O jeito da máscara de se embriagar é genial... Ela é até capaz de se transformar em alguém que não é ninguém sem a ajuda de uma gota sequer de álcool... Aliás, como eu mesmo...! Eu...? Não, este sujeito é a máscara...” (p. 182)
O livro possui poucos
personagens. A esposa, que recebe voz somente no final do livro, e se mostra
muito capciosa; uma criança que o narrador revelar ter de alguma deficiência
mental; um rapaz que cede seu rosto como molde para a mascara e o cientista louco sem
rosto, um personagem excêntrico e de personalidade egoísta.
Para quem gosta de livros densos,
cheios de descrições e suspense, O Rosto de Outro é uma ótima recomendação. Mas não só por
isso, como também pelas reflexões trazidas ao longo do texto. Às vezes nem
sempre o individuo que está ao nosso lado é verdadeiramente quem diz ser e só
quando se esconde por traz de uma máscara revela as reais ideias que possui
escondidas a sete chaves. Da mesma forma, quem julgamos ignorantes, na prática,
podem estar usando máscaras invisíveis que pouco revela sobre seus verdadeiros
eus.
Kobo Abi, pseudônimo de Kimifusa Abe, tinha forte interesse por fotografia e pela sétima arte, tanto é que chegou a codirigir e escrever o roteiro da adaptação de Um Rosto de Um Outro, em 1966 e também seu outro romance A Mulher de Areia. Ele faleceu em 1993, porém já era consagrado como um dos romancistas modernos mais importantes da literatura japonesa.
Kobo Abi, pseudônimo de Kimifusa Abe, tinha forte interesse por fotografia e pela sétima arte, tanto é que chegou a codirigir e escrever o roteiro da adaptação de Um Rosto de Um Outro, em 1966 e também seu outro romance A Mulher de Areia. Ele faleceu em 1993, porém já era consagrado como um dos romancistas modernos mais importantes da literatura japonesa.
E você já leu esse livro Um rosto de Um Outro? Gosto de livros de literatura japonesa? Comenta aí.
Título original: Tanin no koa (the face of another) 1964
Autor: Kobo Abe
Tradução: Leiko Gotoda
Editora: Cosac Naify
Ano: 2015
ISBN: 978-85-405-0876-7
Gênero: Romance japonês / literatura japonesa
Páginas: 288
Autor: Kobo Abe
Tradução: Leiko Gotoda
Editora: Cosac Naify
Ano: 2015
ISBN: 978-85-405-0876-7
Gênero: Romance japonês / literatura japonesa
Páginas: 288
Resenha de número 365
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