Título: Sempre Vivemos No Castelo
Autor: Shirley Jackson
Título original: We've Always Lived in the Castle (1962)
Tradução: Alceu Chiesorin Nunes
Editora: Suma de Letras
Edição: 1
ISBN: 9788556510327
Gênero: Romance
Ano: 2017
Páginas: 200
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Até este ano a autora só tinha apenas um romance publicado no Brasil: A Assombração da Casa da Colina (1959.), que saiu em 1983 na coleção Mestres do Horror e da Fantasia pela extinta editora Francisco Alves. Sendo esse livro uma das maiores histórias de casa mal-assobrada da literatura americana, adaptada para o cinema duas vezes. Shirley Jackson também possui um dos contos mais antologizados da história da literatura americana do século vinte: A Loteria (1948).
Julian, naquela noite, foi um dos sobreviventes, o que lhe trouxe graves sequelas e uma saúde debilitada, tanto é que vive inválido em uma cadeira de rodas dependente das sobrinhas que lhe prestam serviços diários básicos. Ele se dedica a escrever a história da família a fim de tentar explicar o que aconteceu em um livro, por isso é muito apegado aos seus papeis.
Shirley Jackson, com esse livro, nos mostra que o assutado não são as coisas inexistentes, não são monstros inventados. O que te aterroriza são pessoas, palavras não ditas, aquela aproximação inesperada por traz, pensamentos hostis que acaba tornando tudo mais perturbador. Com passagens perturbadoras, claustrofóbicas e que nos deixa com o sentimento de mal-estar, Sempre Vivemos No Castelo, um livro sobre culpa, isolamento e medo, me deixou feliz. Feliz por acreditar no trabalho de uma grande autora sem nem mesmo tê-la lido e principalmente por divulgá-la.
Autor: Shirley Jackson
Título original: We've Always Lived in the Castle (1962)
Tradução: Alceu Chiesorin Nunes
Editora: Suma de Letras
Edição: 1
ISBN: 9788556510327
Gênero: Romance
Ano: 2017
Páginas: 200
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Avaliação:
Resenha
Shirley Jackson morreu consideravelmente jovem aos 49 anos de idade em 1965. Ela é autora de seis romances, quatro livros de literatura infantil, uma peça teatral para o público juvenil, duas memoirs cômicas sobre a família, cerca de trinta artigos de não-ficção, numerosas resenhas literárias e quatro coleções de contos que junto aos escritos não inclusos em antologias somam aproximadamente uma centena de contos de ficção individuais, sendo o conto o gênero que a autora mais se mostrou eficiente.
Até este ano a autora só tinha apenas um romance publicado no Brasil: A Assombração da Casa da Colina (1959.), que saiu em 1983 na coleção Mestres do Horror e da Fantasia pela extinta editora Francisco Alves. Sendo esse livro uma das maiores histórias de casa mal-assobrada da literatura americana, adaptada para o cinema duas vezes. Shirley Jackson também possui um dos contos mais antologizados da história da literatura americana do século vinte: A Loteria (1948).
Sempre Vivemos no Castelo foi publicado em 1962, três anos antes da sua morte em 1965, e pela primeira vez é publicado no Brasil pela editora Suma de Letras com tradução de Débora Landsberg em uma edição luxuosa em capa dura. A precipício dois fatores pode nos enganar: (i) a capa que nos lembra um romance chick-lit; e (ii) a autora influenciou autores como Stephen King e Richard Matheson, o que nos levaria a crer que é um livro sanguinolento e aterrorizante.
Tudo começa com uma breve apresentação da personagem principal e que narra a história. Mary Katherine Blackwood de 18 anos. Ela vive na Nova Inglaterra com sua irmã, Constance e o tio Julian em um casarão luxoso afastado do vilarejo em que vivem. Exceto essas pessoas, todos os membros da família foi dizimada por uma tragédia. Logo após o incidente, os três se isolaram na mansão, cortando praticamente todos os laços com o resto do mundo.
Constance, de 28 anos, é a responsável pela cozinha. Ela sempre gostou de cozinhar, mas desde jovem nunca foi chegada no açúcar, o que lhe valeu uma suspeita de ter sido a responsável pelas mortes. Ela mostra ter a mente muito debilitada decorrente da tragedia e tudo o que se sucedeu (morte da família, ser suspeita e isolamento). Mas nada a impede de cuidar de Mary, a irmã mais nova. Marricat, como é chamada, costuma brincar com seu gato de estimação Jona, que tem um ar próprio e humano, pela vasta propriedade dos Blackwood e enterrar coisas como num ritual que irá trazer a harmonia para o ambiente. A personalidade dela é mais infantilizada, lembra uma criança que gosta de fazer travessuras, porém, o que ela não gosta tanto é de ir ao vilarejo realizar as compras necessárias para a sobrevivência. Todos parece não gostar da família Blackwood, sentem um ódio que mais lembra inveja pela riqueza que eles possuem. Essas idas são um tormento para Marricat, ela sempre ouve piadinhas, como respostas, não sente os melhores sentimento por essas pessoas, como descreve no trecho a seguir:
“[...] Queria que todos vocês estivessem mortos, pensei, e senti ânsia de falar em voz alta. Constance dizia, “Nunca deixe que eles vejam que você se importa” e “Se você der alguma atenção, a situação só vai piorar”, e era provável que fosse verdade, mas eu queria que estivessem mortos. Gostaria de entrar no mercado uma manhã e ver todos eles, até os Elbert, as crianças, deitadas ali, chorando de dor e agonizando. Então eu pegaria os produtos por conta própria, imaginei, pisando em seus corpos, tirando o que quisesse das prateleiras, e iria para casa, talvez com um chute na Sra. Donel, ali deitada. Nunca senti remorso quando tinha pensamentos como esse: só queria que se tornasse verdade. "É errado odiá-los”, Constance dissera, "só serve para enfraquecer você", mas eu os odiava mesmo assim, e me questionava até mesmo por que eles tinham sido criados." (P. 17)
Mesmo com tudo o que aconteceu, os três ainda vivem bem em seu isolamento. No entanto, tudo muda quando aparece um primo da meninas que se diz disposto a ajudá-las. Mas Julian, e Mery principalmente, sentem que algo de bom não está por vim e é a partir de então que uma série de acontecimentos vão contribuir ainda mais para o que parece ser o infortúnio dessa família.
Sempre Vivemos No Castelo é um suspense psicológico e consegue transpor o leitor para uma atmosfera sombria, tensa e de desconfiança. Não temos uma certeza do que aconteceu naquele casarão, muito menos os motivos que levaram a tragedia, e esse é um dos motins que nos leva a seguir adiante na busca de respostas. No entanto, não é aquela coisa de esconder do leitor os motivos, ao contrário, a autora até solta muito cedo os detalhes. As personagens parecem misteriosas, cheias de si e de cinismos.
Com um enredo bem simples e um ar gótico, a autora consegue nos envolver com essa narrativa em primeira pessoa de um narrador não confinável. A personagem central tem essa dualidade na personalidade, peculiar, enquanto às vezes nos parece corajosa, em outras revela pensamentos macabros difíceis de associar a narradora que nos leva a crer ser quem devemos confiar. Além do mais, ela tem uma espécie de ritual onde tenta proteger a casa do mal, e para ela as coisas devem estar no lugar de sempre para não quebrar o equilíbrio do ambiente.
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