Resenha #229: Era dos Extremos - Eric Hobsbawm


Título: Era dos Extremos: O Breve Século XX 1914-1991
Autor: Eric J. Hobsbawm
Tradução: Marcos Santarrita
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2° Edição
ISBN: 9788571644687
Gênero: Histórico / Não-ficção
Ano: 1995
Páginas: 598

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Resenha:

"Era dos Extremos: O Breve Século XX 1914-1991" é uma das grandiosas obras do historiador marxista Eric Hobsbawm. Nascido no Egito, Hobsbawm mudou-se ainda criança para Viena e Berlim e, alguns anos mais tarde, para a Inglaterra, onde construiu sua vida acadêmica e ganhou o renome que hoje possui. Nesta obra, o autor busca explanar acerca de vários temas que intrinsecamente estão conectados ao século que se passou, tentando explicar alguns acontecimentos - como a Primeira e Segunda Guerra Mundial, seguido da Guerra Fria, o surgimento do Terceiro Mundo, etc -, nos mostrando como uma pequena mudança na balança de poder do sistema internacional pode gerar consequências inimagináveis e, muitas vezes, catastróficas.

O exemplar é dividido em três partes (A Era da Catástrofe, A Era de Ouro e O Desmoronamento), com dezenove capítulos ao todo, onde em cada um deles o autor buscará discutir um tema específico. Seguindo uma linha de pensamento cronológica, Hobsbawm começa sua obra fazendo uma breve explanação sobre o que denomina ser "A Era da Guerra Total": o período que compreende a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Nesta capítulo específico, Hobsbawm não tem como objetivo primário explicar a origem da Primeira Guerra (tendo em vista que o mesmo já fez isto em A era dos Impérios), mas sim defender a tese do início de uma nova era em que os principais recursos e atenções das potências estariam voltados em grande medida para os esforços de guerra.


Uma das frases que mais chamou minha atenção neste início de leitura foi a de que "Paz significava antes de 1914". Pode parecer pesado e, talvez, um pouco mórbido demais, mas de fato tal afirmação torna-se nitidamente verdadeira no decorrer da leitura. Embora guerras tenham sido travadas desde que a raça humana existe, o mundo ainda não havia experimentado uma guerra de proporção mundial até 1914. A mudança de panorama se deu por 1914 ser palco de guerras que envolveram todos os Estados europeus, inaugurando uma era de massacre como nunca antes na história. Eric Hobsbawm descreve então como o conflito se deu na prática, suas batalhas, as perdas humanas e materiais, os empates e ganhos nas ofensivas, a evolução tecnológica estimulada pela tentativa de superar o oponente no campo de batalha, as consequências sociais e políticas do fim da guerra e outras questões que moldaram o mundo em que vivemos hoje.

Não vou me alongar, pois cada capítulo desta obra daria, tranquilamente, uma resenha de mais de duas mil palavras e, claramente, um bom e amplo conteúdo para o desenvolvimento de um artigo acadêmico. Entretanto, outro capítulo que creio que valha à pena ser abordado nesta resenha é o de número nove, intitulado "Os anos dourados". Nele, o autor busca dissertar acerca do período em que o capitalismo chegou a níveis exorbitantes de produção, em especial no mundo desenvolvido, mas que acabou por respingar nas zonas periféricas como produtos tecnológicos e industrializados. Outro ponto interessante salientado é sobre como a descoberta da penicilina, fruto da expansão do investimento em novas tecnologias, acabou por trazer uma maior liberdade sexual na época, tendo em vista que doenças que outrora não possuíam cura (como a sífilis, por exemplo), agora poderiam ser tratadas de forma simples e efetiva. O medo, entretanto, voltaria alguns anos mais tarde com o surgimento da AIDS. O "boom" populacional nos países não desenvolvidos, bem como a degradação do meio ambiente por causa do aumento da fabricação de produtos industrializados também é tema recorrente nesta obra.


No mais, gostaria de deixar registrado que este foi, sem sombra de dúvidas, um dos melhores livros históricos que li em minha vida. De forma didática, multifacetada e altamente explicativa, Hobsbawm nos mostra sua interpretação dos fatos históricos utilizando-se do empirismo, através de dados econômicos - tais como taxas de importação e exportação, PIB - e marcos históricos para ilustrar seu argumento. Através de seu texto é possível traçar um panorama para que possamos entender o atual cenário político, social e econômico do mundo, em especial para compreender problemas endêmicos como a fome e a desigualdade social, bem como a formação do sistema capitalista atual e em constante mutação em que vivemos. Com este leque de concepções, a compreensão excepcional da transição de eras que nos é apresentada atenta para diversas transformações que serão responsáveis pela formação do pensamento contemporâneo, o que nos leva a questionar (e buscar entender) a nova ordem mundial de Estados. Atreva-se você também a pensar fora da caixa. Historize-se.

Até logo,
Sérgio H.

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