Resenha #223: Não Tive nenhum prazer em conhecê-los - Evandro Affonso Ferreira

Título: Não Tive nenhum prazer em conhecê-los
Autor: Evandro Affonso Ferreira
Editora: Record
Edição: 1
ISBN: 9788501084170
Gênero: Romance brasileiro
Ano: 2016
Páginas: 368
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Avaliação:  




RESENHA

Em seu novo romance Evandro Affonso Ferreira, constrói uma narrativa em mosaico, com pequenos fragmentos poéticos, onde o personagem/narrador é um homem de 90 anos, que vive em São Paulo, e usa a escrita para lidar com a velhice e desesperança. 
Entre passeios pela “metrópole apressurada”, reflexões, e lembranças da infância e juventude, o personagem escreve, numa tentativa de publicar seu primeiro livro. Ele fala sobre a decrepitude, solidão, melancolia, e a saudade da amada “aquela que não voltará jamais”, como ele a chama. 
“Não sei duração do instante — segundos, minutos? Sei que gostaria de olhar nos olhos azul-turquesa dela (aquela que voltará jamais) só mais um instante.” Pág: 21
O livro tem uma linguagem poética, e um texto bem elaborado, característica marcante do autor. Traz citações de diversos autores, desde os gregos antigos a Schopenhauer. O texto é repleto de palavras que não são usuais no vocabulário informal, mas que dão o tom da narrativa. Outro recurso utilizado pelo autor é a eliminação dos artigos definidos, dando ritmo à leitura.
 “Sei também que escrevo para me livrar dos meus demônios, que se apresentam em forma de vogais e consoantes — escrever é desanuviar dos próprios assombros; jeito poético talvez de cortejar próprios destrambelhos; de zombar de si mesmo — sem abrir mão dos rompantes lúdicos; escrever para tornar águas do meu rio menos turvas” Pag: 167
Por se tratar de uma narrativa feita por fragmentos, o livro não possui um “ponto alto” da história, nem possui uma ordem cronológica dos fatos narrados. Seguimos o tempo inteiro na cabeça do narrador, somos levados pelas suas memórias, idéias, divagações e sentimentos. Adorei a leitura, e as reflexões causadas pelo livro, talvez o leitor acostumado com uma romance com grandes acontecimentos, e reviravoltas não se atraia, mas ainda sim, vale uma chance. 
“Posso dizer que fui apenas alguns parênteses neste longo texto cujo nome é vida”
Evandro Affonso Ferreira, nasceu Minas Gerais, em 1945, mora em São Paulo há 40 anos. Surgiu na literatura em 2000, vencedor do prêmio Jabuti 2013 na categoria romance com O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam, do Prêmio APCA 2012 com Minha mãe se matou sem dizer adeus, e terceiro lugar no Jabuti de 2015 com Os piores dias de minha vida foram todos.


Até mais,
Elidiane Galdino


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