Resenha #182: Neblina - Adalgisa Nery

Título: Neblina
Autor: Adalgisa Nery
Editora: José Olympio
Edição: 2
ISBN: 9788503012676
Gênero: Romance brasileiro
Ano: 2016
Páginas: 208

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Avaliação: 



RESENHA


Adalgisa Nery é uma das (re)descobertas que a José Olympio vem resgatando de seu acervo. A autora carioca que nasceu 1905, foi, além de escritora, jornalista e deputada. Entre sua obra temos poesia e dois romances, sendo o primeiro deles A Imaginaria de 1959.
Neblina, é o segundo romance da autora, sendo publicado originalmente em 1972. Na trama, uma mulher casada se isola de tudo após uma experiência de quase morte durante uma cirurgia e seu interesse em viver se torna turvo e sem sentido. Enquanto isso o egoísmo da família se mostra grandioso e a mulher é abandonada num quarto fechado. Esse estado da personagem lembra muito a depressão, mas em nenhum momento isso é mencionado. 

Os dias vão passando, e mais e mais a mulher é escanteada e jogada num "porão", já que a família deseja alugar seu quarto para um casal de inquilinos e assim aumentar a renda para suprir os gastos em casa. A mulher é tratada como uma parente distante que ficou doente, e que não gosta muito de sair, tudo para não manchar a imagem da família.

Com exceção da mãe, todos na casa tem trabalho fixo. O marido da personagem principal ajuda com pouco que pode em casa, e a irmã diz que precisa curtir a juventude enquanto ainda é jovem e que por isso seu dinheiro do trabalho deve ser para comprar produtos de beleza e roupas de marcas em boutiques. O único que não reclama é o patriarca, que tem uma imagem bem apagada dentro da casa.

Na casa, a vida passa a ganhar outro rumo quando um casal de inquilinos alugam o quarto da moça e a inquilina passa a fazer visitas regulares no porão afim de conversar com a mulher que todos achavam ter ficado muda. E como uma flor, a mulher vai desabrochando e se abrindo com a inquilina, e com os amigos dessa inquilina, em conversas filosóficas sobre a vida e a morte. Já a família se sente a melhor por ter pessoas ilustres em sua residência, mas desconhece a família que ela, a personagem central, carrega em si as magoas que veem sendo atingida pelos maus tratos que recebe dos parentes.  
A narrativa nebulosa é em primeira pessoa, com a voz da mulher. É através do contato com uma memória que não é a dela, uma memória em forma de uma segunda cabeça, que ela fica ciente de tudo o que acontece a sua volta, passado e presente.

É impressionante a qualidade literária dessa obra, o enredo a principio pode até ser simples, mas vai ganhando notoriedade ao desenrolar do romance e seu grande foco não está tanto na história em si, mas sim nessas reflexões humanas da personagem central numa escrita continua, intimista e sensível. 

É possível sentir uma grande empatia com essa mulher, afinal, quem nunca se sentiu deslocado em meio a tanta gente e até sua própria família? Às vezes temos nossos estados de exclusão em que queremos ficar apenas só, e não importa se estamos num local iluminado e alegre, se nosso interior é só escuridão.
Se você gosta de um livro que disseca a personalidade do personagem, embora às vezes contraditório, Neblina é uma ótima dica. Se fosse para definir a obra, diria que é uma mistura, como se fosse Clarice Lispector escrevendo A Redoma de Vidro, da Sylvia Plath.

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5 Comentários

  1. Nossa! Que livro! Parece ser muito denso!
    Deu vontade de ler, apesar de não ser bem o meu estilo preferido.
    Quero saber o final que essa personagem terá. Quanto sofrimento.
    bjs

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  2. O livro tem uma premissa bem original.
    Gostei, mesmo parecendo ser uma leitura lenta, sem muitas cenas de ação.
    A parte física é linda! A capa parece ser fosca e tem poucas páginas, dá pra sentar e ler em poucas horas.

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  3. Olá.
    A premissa desse livro não me chamou a atenção, apesar de sua resenha demonstrar pontos positivos sobre a obra. Mas deixo passar, não é meu estilo de leitura. Acredito que oferecerá uma ótima leitura aos fãs do gênero e admiradores da autora. Obrigada. Abraços.

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  4. Oi!
    Gostei muito da resenha, ainda não conhecia esse livro, mas a historia logo me chamou atenção, achei bem interessante os temas que a autora trata com esse livro e principalmente como ele parece nos fazer refletir ao longo da leitora, mesmo não sendo um gênero que leio muito, gostei muito dessa historia !!

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  5. Nossa, fiquei com muita vontade de ler esse livro. De inicio essa premissa de pessoa adoecida que é deixada de lado pela família me lembrou bastante o Metamorfose do Franz Kafka, mas o fato de ser narrado em primeira pessoa e mostrar o que a personagem ta sentindo e pensando, parece ser muito interessante. Vou colocar ele na minha lista de futuras leituras
    Abraços
    www.desconstruindooverbo.com.br

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