Resenha #131: A Imaginária - Adalgisa Nery

Lido em: Dezembro de 2015
Título: A Imaginária
Autor:
 Adalgisa Nery
Editora: José Olympio

Gênero: Romance brasileiro
Ano: 2015

Páginas: 351
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Avaliação: 



Resenha



Em a “A imaginária”, Adalgisa Nery usa a personagem Berenice para contar sua própria vida. Dessa forma, acompanhamos Berenice desde sua infância, até sua vida adulta entre casamento, filhos, e angústias.

Berenice era uma criança aparentemente normal, porém tinha uma grande sensibilidade, e já lhe afloravam os sentimentos poéticos. Por esse motivo era tida como menina imaginativa. Uma menina que queria ser árvore. Cercada de vários irmãos, uma mãe sempre doente, e um pai silencioso que não demonstrava um mínimo afeto, Berenice cresce a distância, entre realidade e imaginação.
“Quando menina, olhava-me no espelho e tinha a sensação de refletir uma Berenice inimiga, muito mais velha, carregando experiências que embora não me tivessem marcado a carne do meu corpo de criança já haviam arranhado fundamente minha sensibilidade.” Pag:95
Desde cedo, a menina vai apreendendo que sua vida será marcada por tristezas. Sua mãe morre, quando ela tinha apenas 8 anos, depois vai para um internato. E então o pai casa-se novamente, com uma italiana severa. Até que aos 14 anos Berenice conhece o amor, percebe que só amor pode salvar sua vida. Sua família, porém não aceita o namoro. E para poder viver seu amor, e fugir das garras da madrasta e o silencio do pai, ela casa escondido.

Passa então a morar na casa do marido Ismael Nery. Com ela morava também a família do marido, um trio de mulheres descontroladas. Berenice se vê mais uma vez sufocada por angustias, loucuras, e pelo marido que se revela bem diferente do que conhecera anteriormente. Sua casa é freqüentada por artistas e poetas, mas seu marido faz questão de deixá-la de fora, afirmando sempre que ela não possui sensibilidade e lirismo. Chegando a afirmar certa vez que “A minha mulher é como minha mão. No dia em que ela gangrenar, eu a decepo e continuo a viver com o resto do corpo.” Ao ser diagnosticado com tuberculose, o marido se mostra ainda mais cruel, revelando que tem uma amante, e entre outras atitudes impiedosas.

É entre atos de loucura, mesquinharia e crueldade que ocorre a vida da personagem. A imaginaria é uma autobiografia, mas também ficção. Onde a realidade e vida da poetisa Adalgisa Nery, esbarra na imaginação e se entrelaçam. Uma mulher que desconhecia a si mesma, que encontrou no amor a sua salvação, mas não foi amada por si mesma, e vivia em um mundo que sua hipersensibilidade não suportava.
 “Há vácuos tão profundos na alma que palavra alguma pode superar. Só o silêncio nos olhos, nos gestos e na língua devia ficar. E foi o que fiz.” Pag:181
Ao ler esse livro, me pergunto por que esse romance demorou tanto para ser republicado, exatamente 35 anos após o falecimento da autora. Pois é um livro belíssimo, profundo e doloroso. Recomendo esse livro a todos que queiram conhecer sobre essa incrível escritora, que há muito foi esquecida, mas de importante relevância na produção feminina. É um livro de grande carga dramática, para ser ler sem presa, refletindo sobre cada passagem, que é repleto de lirismo. Como dizia Drummond é um “livro-choque, beleza dolorida e profunda”.

A edição da José Olympio está belíssima, e rica em conteudo, pois além do romance integral, trás também notas do organizador, assim como um belíssimo texto de apresentação da Ana Arruda Callado, autora da biografia de Adalgisa. Um ensaio sobre a autora e sua obra de Affonso Romano de Sant’Anna, e uma Cronologia da vida e lista de obras de Adalgisa Nery, e curiosidades sobre sua pessoa.

Até mais,


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