Lido em: Janeiro de 2015
Título: Budapeste
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia Das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2003
Páginas: 176
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Avaliação:
Resenha
José
Costa é um ghost-writer e ganha a vida escrevendo artigos, dissertações,
monografias, cartas, petições de advogados, etc, na Cunha & Costa Agência
Cultural, onde é sócio junto com seu amigo de faculdade Álvaro Cunha. Diferentemente
de outros escritores fantasmas, José Costa não deseja o reconhecimento, sua
maior vaidade é ver seus textos assinado por outra pessoa, segundo ele “está em
evidencia era alguma coisa como quebrar um voto”. Costa é casado com Vanda,
apresentadora de um telejornal, e que não entende exatamente o que o marido
escreve, e sequer se interessa pelo seu trabalho.
A
trama ganha forma quando José Costa, voltando de Istambul — onde participou de
um congresso de autores anônimos — é obrigado a pousar em Budapeste, devido a um
problema no avião. Ao passar uma noite na cidade, fica intrigado com a língua
nativa - húngaro - que, segundo Costa, é a única língua que o diabo respeita. Tenta
aprender algumas palavras em húngaro, em vão. Ao voltar ao Rio de Janeiro, José
Costa tem a missão de escrever a biografia encomendada de um alemão. Após
terminar o livro, vendo-se em conflito com o seu trabalho, Costa decide tirar
férias, e viaja para Budapeste, onde deseja aprender a falar húngaro. É quando
conhece Kriska, e a moça se oferece para lhe ensinar o idioma.
"Então cobri sua mão com a minha e lhe disse: serei para sempre teu discípulo humilde e grato. As melhores palavras que sei emanaram de ti, devem a ti seu vigor e sua beleza. Será somente teu o teu verbo, dedicar-te-ei meus dias e minhas noites." Pag:127
É
entre essas idas e vindas entre Rio de Janeiro e Budapeste, que a trama se desenvolve.
Que conhecemos o interior de José Costa, suas aflições e anseios, seus altos e
baixos e a confusão do seu ego. A relação amorosa que mantém com Vanda, sua
esposa, e Kriska, a professora de húngaro. A relação húngaro-português, o
processo e aperfeiçoamento de sua escrita. E juntos com José Costa, embarcamos
em uma viagem por Budapeste.
“Deveria
ser proibido debochar de quem sem aventura em língua estrangeira”, Budapeste
nos suga desde a primeira frase, e nos fascina, assim como o húngaro fascinou
Costa. Quando damos por sim, estamos andando pelas ruas de Budapeste e do Rio
de Janeiro, entrando por completo na vida de José Costa — ou Zsoze Kósta (como é
chamado em Budapeste).
"Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos outra meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras húngaras." Pag: 61
Admito
que no início possa não parecer uma leitura fácil, Chico nós engana com o
estilo falso-leve. Os parágrafos são longos, e em algumas partes do livro há
uma quebra cronológica dos fatos, mas que logo entendemos o motivo, esses
detalhes estão longe de ser um problema para quem lê, isso dá dinâmica a
leitura, e nos faz perceber o quão único e incrível é o romance de Chico.
Budapeste
é diferente de tudo que já li, e que possa vir a ler, sua trama é bem
construída, e narrada de forma excelente, não tem nada que um romance clichê
possui. E seu final é surpreendente, o que deixa o leitor incapaz de imaginar
outro desfecho possível. É um livro pra se ler num fôlego só. E no fim perceber-se
sem ar. Budapeste é o terceiro romance escrito por Chico Buarque, e nele, mostra
que além de compositor, cantor e dramaturgo, é um impecável romancista. A escrita
de Chico Buarque é verdadeira poesia.
"Houve um tempo em que, se tivesse de optar entre duas cegueiras, escolheria ser cego ao esplendor do mar, às montanhas, ao pôr-do-sol no Rio de Janeiro, para ter olhos de ler o que há de belo, em letras negras sobre fundo branco." Pag: 96
6 Comentários
Olá =)
ResponderExcluirConfesso que não tinha me interessado nesse livro, mas essa foi a primeira resenha dele que me despertou uma curiosidade. Acho que não conheço o lado romancista do Chico, mas gostaria de descobrir. As músicas são trilhas sonoras da minha casa desde que e entendo por gente. Meu pai é grande fã. Mas nunca li nada que ele tivesse escrito. Parabéns pela resenha *o*
Beijos, Rob
http://estantedarob.blogspot.com.br/
Oi, Elidiane!
ResponderExcluirEu nem conhecia o livro, acredita? Sei que Chico tem livros publicados, mas não sabia da existência desse. Eu acho suas músicas geniais, mas não sei se conseguiria me arriscar num romance, ainda mais por essa sua ressalva de que é um "falso-leve".
Achei a premissa bem incomum, principalmente por citar os ghost-writers, que normalmente ficam por baixo dos panos. E de onde ele tirou húngaro? Só Chico mesmo!
Não sei se leria por agora, mas não descarto ler algum dia. Só de conhecer o livro já valeu muito a pena ter vindo aqui.
Beijinhos!
Giulia - www.prazermechamolivro.com
Olá, Giulia!
ExcluirEu também não conhecia o livro, até ganha-lo de presente. E me surpreendi bastante.
Sabe-se lá de onde o Chico tirou o húngaro, e Budapeste. Inclusive, ele nunca esteve em Budapeste antes de publicar o livro, e mesmo assim, as descrições são incríveis.
Se um dia vier a ler, espero que goste.
Beijinhos!
Olá
ResponderExcluirFiz uma troca ontem e consegui um dos livros do Chico, mal posso esperar pra ler. Eu já conhecia Budapeste e a trama desde que assisti à adaptação do livro que fizeram pro cinema e desde então tenho muita curiosidade em ler o livro. Sua resenha me deixou ainda mais curioso pela narrativa e espero conseguir faze-la o quanto antes.
Abraço!
www.umomt.com
Acho que esse não é um livro para mim :/ Sua resenha está ótima, mas não consigo ter vontade de ler :/
ResponderExcluirRobs - http://www.perdidoempalavras.com/
Já li esse livro, acho que foi ano retrasado, e amei! Lendo a sua resenha me deu vontade de ler de novo, haha :)
ResponderExcluirKissus
www.penseicliquei.blogspot.com
Obrigado pelo seu comentário!