Em "Globalização, Democracia e Terrorismo", de Eric J. Hobsbawm, importante historiador marxista nascido durante o século XX, são abordadas temáticas que cada vez mais vem ganhando espaço nas discussões do mundo contemporâneo. Fazendo uma análise histórica, econômica e social das relações internacionais e de diversos grupos ao redor do globo, o autor nos presenteia com uma obra rica em informações e de fácil compreensão.
Com o avanço da tecnologia e, consequentemente, da intensificação da interação entre diversas partes do mundo, era de se esperar que, em algum momento, o conflito viesse à tona. A globalização, embora traga consigo coisas positivas, traz também diversos problemas. Ao ler alguns ensaios deste livro, pude correlacionar certos pensamentos do autor aos de um outro estudioso, o geógrafo Milton Santos. Este acreditava que a globalização pode ser entendida de três formas diferentes: como fábula, como perversidade e como possibilidade. A primeira, seria uma visão de que a máquina ideológica nos faz crer que as notícias instantâneas difundidas no mundo atual, de fato, informam as pessoas. Sobre isto, o autor questiona se, na verdade, não estamos sofrendo uma ideologização maciça, uma vez que oito grupos empresariais controlam 90% dos canais de televisão e rádio do mundo. Sobre a segunda, o autor encara a globalização com uma visão do mundo real, onde o capitalismo cada vez mais intensifica as diferenças de renda ao mesmo tempo que possibilita a continuidade de problemas como pobreza, desemprego e subdesenvolvimento. Por fim, Milton enxerga uma chance de possibilidade: é possível se fazer uma outra globalização. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. Estas são usadas nos dias de hoje para sustentar um sistema de perversidade, mas também podem ser base para uma mudança do sistema, proporcionando assim melhoras sociais e políticas, se usadas com outro objetivo.
Hobsbawm também considera que os processos de intercâmbio comercial, cultural, informacional e financeiro são, na atualidade, marcados pelas novas formas de relação desigual entre países. Nestas interações, diversos conceitos são formulados. Hobsbawm começa o sexto capítulo, intitulado “As perspectivas da democracia”, salientando que existem certas palavras com as quais ninguém quer se ver publicamente associado a elas, como por exemplo, racismo e imperialismo. Outras, no entanto, como mãe e meio ambiente, são palavras que todos anseiam por demonstrar entusiasmo. Democracia, para o autor, situa-se neste segundo hall. Com exceção de algumas teocracias islâmicas e monarquias hereditárias asiáticas, nos dias de hoje é impossível encontrar qualquer regime que não renda homenagens oficiais, constitucionais e editoriais à assembleias e presidentes pluralmente eleitos. “Qualquer Estado que possua estes atributos é oficialmente considerado superior a qualquer outro que não os possua” (HOBSBAWM, 2007, p. 97).
É inegável que “o povo” é considerado hoje como sendo a base e ponto comum de referência de todos os governos nacionais, exceto os teocráticos. “Na era do homem comum, todos os governos são do povo e para o povo, embora seja evidente que, do ponto de vista operacional, eles não podem ser governos feitos pelo povo” (HOSBAWM, 2007, p. 102). Este pensamento é elencado pelo autor como um pensamento comum entre comunistas, democratas liberais, fascistas e nacionalistas de todos os tipos. Para tal, entretanto, independentemente do regime, é necessário o apoio popular, uma vez que mesmo em ditaduras, a insubordinação e a falta de vontade da população em aceitar e seguir aquele regime pode levá-lo à ruína.
A democracia liberal, para o autor, está ancorada no Estado-nacional moderno, que apoia-se em três presunções que cada vez mais vêm perdendo sua validade. A primeira delas aponta que diversos grupos de interesse surgiram no interior dos Estados, fazendo com que estes não possuam mais o monopólio da força coercitiva. A segunda presunção trata acerca da lealdade dos habitantes ao Estado. Para o autor houve, porém, no decorrer das últimas décadas, uma fragilização à lealdade voluntária e a disposição a obedecer. Por fim, a terceira presunção aborda o fortalecimento do pensamento do laissez-faire, que critica que os serviços ofertados pelo Estado também podem ser promovidos pela iniciativa privada, muitas vezes de forma mais efetiva. “Assim, o Estado territorial soberano, que é o elemento essencial da política, democrática ou qualquer outra, está hoje mais fraco do que nos períodos anteriores” (HOBSBAWM, 2007, p 106).
Por fim, o papel da mídia também é ressaltado neste livro, uma vez que ela é responsável, em grande parte, por compensar o declínio da participação cidadã. Atualmente, as publicações da mídia é que consomem as atenções dos políticos e até mesmo de chefes de governo, uma vez que esta acaba, de forma direta ou indireta, a moldar uma opinião pública. Em um mundo cada vez mais globalizado, os governos nacionais coexistem com forças que têm pelo menos o mesmo impacto sobre a vida diária dos cidadãos e que estão, em diferente graus, fora de seu controle. Assim sendo, a mídia impulsiona o governo a criar projetos efetivos para sua população, tendo também um caráter fiscalizador.
Concluindo, Hobsbawm salienta que, no papel, para o século XXI, o futuro da democracia liberal não aparenta ser tão desanimador. Diversos outros problemas surgirão, mas mecanismos políticos efetivos deverão ser desenvolvidos para suprir a demanda do terceiro milênio. Com a redução da força da democracia, diversos grupos insurgentes vêm aparecendo, colocando em cheque os Estados Nacionais e, consequentemente, abalando o status quo. O terrorismo se alastra pelo mundo. Tal questão me fez lembrar o que propõe Huntington, que crê que a fonte primária do conflito no novo mundo não será primariamente ideológica nem econômica, mas sim cultural.
Empregando um linguajar de fácil compreensão, Eric J. Hobsbawm realiza uma análise tangível do cenário político contemporâneo, fazendo uso de seus conceitos de forma singular, auxiliando para que possamos entender a construção da nova ordem mundial.
Hobsbawm também considera que os processos de intercâmbio comercial, cultural, informacional e financeiro são, na atualidade, marcados pelas novas formas de relação desigual entre países. Nestas interações, diversos conceitos são formulados. Hobsbawm começa o sexto capítulo, intitulado “As perspectivas da democracia”, salientando que existem certas palavras com as quais ninguém quer se ver publicamente associado a elas, como por exemplo, racismo e imperialismo. Outras, no entanto, como mãe e meio ambiente, são palavras que todos anseiam por demonstrar entusiasmo. Democracia, para o autor, situa-se neste segundo hall. Com exceção de algumas teocracias islâmicas e monarquias hereditárias asiáticas, nos dias de hoje é impossível encontrar qualquer regime que não renda homenagens oficiais, constitucionais e editoriais à assembleias e presidentes pluralmente eleitos. “Qualquer Estado que possua estes atributos é oficialmente considerado superior a qualquer outro que não os possua” (HOBSBAWM, 2007, p. 97).
É inegável que “o povo” é considerado hoje como sendo a base e ponto comum de referência de todos os governos nacionais, exceto os teocráticos. “Na era do homem comum, todos os governos são do povo e para o povo, embora seja evidente que, do ponto de vista operacional, eles não podem ser governos feitos pelo povo” (HOSBAWM, 2007, p. 102). Este pensamento é elencado pelo autor como um pensamento comum entre comunistas, democratas liberais, fascistas e nacionalistas de todos os tipos. Para tal, entretanto, independentemente do regime, é necessário o apoio popular, uma vez que mesmo em ditaduras, a insubordinação e a falta de vontade da população em aceitar e seguir aquele regime pode levá-lo à ruína.
A democracia liberal, para o autor, está ancorada no Estado-nacional moderno, que apoia-se em três presunções que cada vez mais vêm perdendo sua validade. A primeira delas aponta que diversos grupos de interesse surgiram no interior dos Estados, fazendo com que estes não possuam mais o monopólio da força coercitiva. A segunda presunção trata acerca da lealdade dos habitantes ao Estado. Para o autor houve, porém, no decorrer das últimas décadas, uma fragilização à lealdade voluntária e a disposição a obedecer. Por fim, a terceira presunção aborda o fortalecimento do pensamento do laissez-faire, que critica que os serviços ofertados pelo Estado também podem ser promovidos pela iniciativa privada, muitas vezes de forma mais efetiva. “Assim, o Estado territorial soberano, que é o elemento essencial da política, democrática ou qualquer outra, está hoje mais fraco do que nos períodos anteriores” (HOBSBAWM, 2007, p 106).
Por fim, o papel da mídia também é ressaltado neste livro, uma vez que ela é responsável, em grande parte, por compensar o declínio da participação cidadã. Atualmente, as publicações da mídia é que consomem as atenções dos políticos e até mesmo de chefes de governo, uma vez que esta acaba, de forma direta ou indireta, a moldar uma opinião pública. Em um mundo cada vez mais globalizado, os governos nacionais coexistem com forças que têm pelo menos o mesmo impacto sobre a vida diária dos cidadãos e que estão, em diferente graus, fora de seu controle. Assim sendo, a mídia impulsiona o governo a criar projetos efetivos para sua população, tendo também um caráter fiscalizador.
Concluindo, Hobsbawm salienta que, no papel, para o século XXI, o futuro da democracia liberal não aparenta ser tão desanimador. Diversos outros problemas surgirão, mas mecanismos políticos efetivos deverão ser desenvolvidos para suprir a demanda do terceiro milênio. Com a redução da força da democracia, diversos grupos insurgentes vêm aparecendo, colocando em cheque os Estados Nacionais e, consequentemente, abalando o status quo. O terrorismo se alastra pelo mundo. Tal questão me fez lembrar o que propõe Huntington, que crê que a fonte primária do conflito no novo mundo não será primariamente ideológica nem econômica, mas sim cultural.
Empregando um linguajar de fácil compreensão, Eric J. Hobsbawm realiza uma análise tangível do cenário político contemporâneo, fazendo uso de seus conceitos de forma singular, auxiliando para que possamos entender a construção da nova ordem mundial.
Ficha técnica
Título original: Globalisation, Democracy and Terrorism
Autor: Eric J. Hobsbawm
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007
ISBN: 9788535911305
Gênero: Não-Ficção
Páginas: 182
Adquira seu exemplar aqui!
Autor: Eric J. Hobsbawm
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2007
ISBN: 9788535911305
Gênero: Não-Ficção
Páginas: 182
Adquira seu exemplar aqui!
Avaliação:
Resenha de número 367
Até logo,
Sérgio H.
0 Comentários
Obrigado pelo seu comentário!