Lido em: Outubro de 2015
Título: Uma duas
Autor: Eliane Brum
Editora: Leya Brasil
Gênero: Ficção brasileira
Ano: 2011
Páginas: 176
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Avaliação:
Resenha
Eliane Brum é uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. A Vida Que Ninguém Vê foi premiado com o Prêmio Jabuti de melhor livro reportagem, além de inúmeros prêmios como repórter. Portanto Uma Duas é seu esperado romance de estréia.
O livro trata da relação delicada – complicada – entre mãe e filha. Laura é uma jornalista bem sucedida que não vê a mãe Maria Lúcia há muito tempo. As duas se mantém distantes e se evitam, até que sua mãe é encontrada sozinha no apartamento em estado deplorável e com a saúde fragilizada, o que acaba forçando a convivência das duas novamente.
“Para mim nunca houve um cordão umbilical que pudesse ser cortado. Só a dor de estar confundida com o corpo da mãe, de ser a carne da mãe. Não há como escapar da carne da mãe. O útero é para sempre” Pag.15
Assim Laura abandona o emprego, e volta a morar com a mãe para poder cuidar dela. Mas as duas têm uma relação de ódio e de amor, mas mesmo quando parece ser amor, no fundo é ódio (eu disse que era complicado). Ambas culpam a outra por tudo que acontece em suas vidas. Laura diz que tudo o que a mãe faz é para infernizar sua vida, enquanto Maria Lúcia sabe que Laura faz o que faz para atingi-lá. Elas travam uma luta silenciosa, e talvez, por esse motivo, ainda mais dolorosa.
“Será que a morte da mãe é a morte da filha? Naquele tempo eu já sabia que não havia espaço para nós duas na mesma vida, no mesmo corpo. Uma de nós precisava morrer” Pag: 134
A narrativa intercala momentos em primeira pessoa, por Laura que está escrevendo um livro escondido da mãe, horas em terceira pessoa, e novamente em primeira pessoa, mas pela voz de Maria Lúcia, que resolve contar sua versão da história. E com esses diferentes fluxos de pensamento que podemos compreender mais a fundo mãe e filha. Conhecendo a infância da mãe entendemos como ela se tornou como é, e a motivação de seus atos e suas angústias.
“Mas parece que tudo em mim é torto, e Laura mesma acha que sou uma aberração. O que quero dizer é que não é porque a gente não saiba como fazer as coisas do jeito certo que a gente não ame. Eu não sabia qual era o jeito certo de amar, só isso. Como eu poderia?” Pag:144
Mesmo já conhecendo e admirando o trabalho e estilo de Eliane em seus outros livros, e em suas reportagens, Uma Duas foi uma surpresa, e muito boa. A autora trás sua sensibilidade já conhecida em suas reportagens, e o encanto pelos “desacontecimentos”, mas acompanhado de uma escrita mais crua e dura. É uma leitura densa, com uma grande carga emocional, tanto pelo tema, mas também pela forma como é trabalhado. As palavras de Eliane Brum ficam escoando em sua mente, e causam aquele desconforto que um ótimo livro deve causar.
“E ainda que eu não tenha sabido amar, acho que isso é um tipo de amor. Ainda que não tenha sido como deveria ser e como você tinha o direito que fosse, o que eu senti por você, mesmo quando a odiava, foi o sentimento mais completo e profundo que já senti nesse mundo a minha vida inteira.” Pag:146
Vale ressaltar o belo trabalho gráfico do livro, que possui tons de laranja e rosa. As folhas são amareladas, com fonte em vermelho, e isso é bem interessante, porque Laura em diversos momentos fala que escreve com sangue, por isso a cor vermelha. E a fonte muda de acordo com o narrador, assim o leitor pode identificar em cada capítulo de quem é a voz narrativa.
“Eu posso sentir o que ela sente. E neste momento quero morrer com minha mãe. Porque os dias sem ela que virão não fazem sentido para mim. Eu não serei capaz de enxergá-los sem ela.” Pag:153
Mas afinal onde começa a mãe? Onde termina a filha. Mãe e filha uma só carne? É o que talvez você se pergunte ao ler o livro, por isso você precisa ler. Para conhecer essa historia maravilhosa de uma mulher que nunca quis e não soube ser mãe, e uma filha que nunca soube ser filha. A parte mais linda do livro é o que não pode ser escrito, “o que grita sem voz e sem corpo entre as linhas. O para sempre indizível.”
16 Comentários
Que história linda
ResponderExcluirDeve ser um livro muito inspirador e envolvente
Amei a narrativa ser feita por duas pessoa, quero muito esse livro
Que bacana a letra ser em vermelho. Tenho uma relação muito próxima com a minha mãe e acho que o livro iria mexer comigo. Parece ser um livro bem complicado, com bastante emoção. Com certeza eu leria.
ResponderExcluirJá tinha ouvido falar em "A Vida Que Ninguém Vê" que é um livro extremamente real !
ResponderExcluir"Uma Duas" tem uma história muito boa, parece que vai abrir os nossos olhos para enxergamos que tipo relação temos com nossos pais.
Ótima resenha!!
Eu nunca tinha ouvido falar do livro e gostei muito da proposta dele, realmente ele parece ser ótimo, fiquei super interessada em ler e conhecer um pouco mais sobre essa mãe e filha.
ResponderExcluirBeijos *-*
Não conhecia a autora, mas o livro parece ser muito bom e emocionante.
ResponderExcluirNão curto livros com temáticas assim, acho um pouco depressivo, por isso não leio. Claro que o livro é bom, mas para mim não dá.
ResponderExcluirRealmente esse estilo literário não me desperta a atenção, mas por aborda um tema pouco falado, e que tenho estudado muito no meu curso de psicologia, senti muita vontade de saber mais sobre a estória, e qual vai ser o desenrolar da trama, espero não me decepcionar com essa leitura.
ResponderExcluirNão considero um livro de todo ruim, possui alguns diálogos pertinentes, a meu ver a frase que melhor define o conflito existente na narrativa é "Um amor que odeia ou um ódio que ama". Não é um livro que eu recomendaria, mas estamos falando de uma jornalista bem premiada, inclusive com o Prêmio Jabuti por melhor livro de reportagem, então acredito que valha a pena conhecê-la!
ResponderExcluirÉ um livro muito bonito mesmo. Tenho um primo que leu e gostou muito, deu até vontade de ler quando ele me contou como era. Não tinha visto muito mais dele e esses quotes deram bem a ideia do que o livro é. Gostei e queria ler =D
ResponderExcluirAcredito que o livro Uma Duas deve ser realmente bastante verossímil, visto que sua autora é uma renomada jornalista que sabe muito bem retratar notícias esmagadoras, que estão sempre presentes em nosso cotidiano ainda mais esmagador. Tenho muita vontade de lê-lo, e sinto que Uma Duas poderá ser uma grande surpresa.
ResponderExcluirOi, amei a resenha e adorei os quotes. Gostei do livro mas não me interessou muito, vai entrar na minha lista de pesquisa, pois ainda estou com receio de comprar e não gostar.
ResponderExcluirGostei da resenha pois me tirou varias dúvidas sobre o livro.
Beijoss
Gosto de histórias com pais e filhos, é sempre cheio de emoções.
ResponderExcluirJá li A filha da minha mãe e eu, que trata do relacionamento mãe e filha e gostei.
Esse parece ser bem interessante, não sei se o compraria, mas a história parece ser interessante sim.
Oi Elidiane, tudo bem?
ResponderExcluirEu não leira esse livro, não faz muito o meu estilo.
Não conheço tal jornalista, porém vou pesquisar mais sobre ela no ramo, procurar outras obras dela e quem sabe dê uma chance a outros, por que esse não me cativou.
Recomendo esse livro com certeza, mas tenha claro em sua mente que é uma leitura forte e doída. Uma temática densa e difícil. O texto é totalmente visceral e a cada página você se verá rodeado de socos que vão doer pela violência, crueza e realidade da narrativa.
ResponderExcluirNão conhecia a escrita da autora, mas confesso que a trama do livro mexeu muito com o meu emocional, mesmo ainda não tendo lido a obra. Acho que esse é um tema muito complexo e bastante delicado. É impossível ficar imune a todo o enredo.
ResponderExcluirParece o tipo de livro que me dá vontade de ler mas eu deixo ele na estante e nunca leio, tipo A Filha da Minha Mãe e Eu. Eu adoro livros com essa temática mãe-filha, pq eu mesma sou muito ligada na minha hahahaha
ResponderExcluirAh, achei essa diagramação com letras coloridas sensacional! Meio que nem A História Sem Fim!!!!^^
Obrigado pelo seu comentário!