Escrito por: Elidiane Galdino
“Você quer saber o que é fraqueza? Fraqueza é tratar alguém como se pertencesse a você. Força é saber que cada pessoa pertence a si mesma.” Pag: 63
Essi e Effia são irmãs que não se conhecem, e nasceram em duas aldeias tribais diferentes e rivais de Gana no século XVIII. Effia cresceu e se tornou uma linda mulher na aldeia fanti, foi prometida para o futuro chefe da aldeia Abeeku, mas sua mãe a vende para um inglês chamado James, governador Castelo de Cape Coast, numa espécie de vila cheia de colonizadores e suas “esposas” negras.
“Se procurarmos o homem branco para obter mais instrução, aprenderemos somente o que o homem branco quiser que aprendamos. Voltaremos para cá e construiremos o país que o homem branco quer qu construamos. Um país que continue a servir aos interesses deles. Nunca nos tornaremos livres.” Pag: 332
Enquanto nos porões no Castelo de Cape Coast, escondidos ficavam os negros sequestrados e “adquiridos” nas disputas entre as tribos. Entres os prisioneiros, que seriam vendidos como escravos para América estava Esi, a meia-irmã que Effia não sabia ter. Esi cresceu como filha do chefe da aldeia axânti, até que sua aldeia é invadida e ela é vendida para fazendeiros do Mississipi.
Os dois primeiros capítulos narram à história de vida de Effia e Esi, e como cada uma seguiu seu caminho, uma em Cape Coast, e a outra na América. Os capítulos seguintes são intercalados com os descendes de cada irmã, contndo a trajetória de cada um. A vida e os caminhos de seus filhos, netos, bisnetos, até chegar a 7º geração da família.
“Os brancos têm escolhas. Eles podem escolher o emprego, escolher a casa. Eles podem fazer filhos negros e depois desaparecer como se nunca tivessem estado por ali, pra começo de conversa. Como se essas negras com quem eles tinham ido pra cama ou que tinham estuprado tivessem dormido consigo mesmas e ficado grávidas. Os brancos também escolhem pelos negros. Antes, eles os vendiam. Agora, simplesmente mandam pra cadeia.” Pag: 388
O livro percorre desde as guerras tribais em Gana até a escravidão e Guerra Civil dos Estados Unidos, passando pelo trabalho forçado de prisioneiros nas minas de carvão, etc, e toda a trajetória do povo negro nesses contextos.
A obra traz assuntos muito pertinentes aos dias atuais, como racismo, imigração, trabalho escravo, contraste culturais, e permite uma compreensão da história do povo africano e seus descendentes, que a muito foi negada pela história.
Yaa Gyasi a autora do livro tem 29 anos, e nasceu em Gana e cresceu em Huntsville, no Alabama, EUA. E esse detalhe é interessante, porque uma das personagens também faz essa trajetória de nascer e Gana, e crescer nos Estados Unidos, e ela percebe essa diferença cultural dos países. E vive o sentimento de não pertencimentos, pois não se sente incluída com as colegas negras da escola por ser de Gana e ser “mais negra”, e tampouco se sente parte de Gana, pois há muito já não vive lá.
Apesar de aparentar ser um livro denso e até de difícil leitura, mas as histórias são envolventes e quando começa a ler não se quer mais largar o livro. É uma narrativa forte e que foge das narrativas clichês sobre escravidão, pois a autora traz elementos forte da cultura africana em sua narração, os signos, símbolos e crenças. Além de ter um fundo histórico muito bem construído e bem desenvolvido, o que dá mais força aos personagens e a narrativa.
Ficha técnica:
Título: O Caminho de casa
Título original: Homegoing
Autor: Yaa Gyasi
Tradução: Waldéa Barcellos
Editora: Rocco
Edição: 1
Gênero: Romance americano
Ano: 2017
ISBN: 9788532530592
Páginas: 448
Avaliação:
Resenha de número 363
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