Vulgo Grace é baseado na história real de Grace Marks, uma jovem de 16 anos condenada como cúmplice no assassinato do patrão, Thomas Kinner e da governanta Nancy Montgomery no século XIX em parceria com o capataz da casa, James McDermott. No julgamento, Grace e o possível compareça foram condenados a morte. Ele foi enforco. No entanto, com a ajuda do advogado, a sentença dela foi convertida por prisão perpétua. Apesar de todas as provas, e até mesmo os depoimentos, nunca ficou muito claro o que aconteceu naquela casa e um fator que contribui para isso é a alegação dela de que não se lembra do que aconteceu. Provavelmente um choque sofrido por Grace que afetou sua memória.
O médico Simon Jordan é contratado por um comitê para analisar a jovem. Ele vai até a prisão periodicamente para tentar compreender a mente dela através de conversas e métodos novos afim de recuperar a memória dela e confirmar ou não a sua inocência. Só que nem tudo ocorre como o planejado. Há envolvimentos inesperados e ele entra em uma verdadeira enrascada. Seria Grace a verdadeira responsável pela morte dos patrões, ou vítima de uma armação?
Nesse ponto, batemos de frente com uma sociedade retrograda, que acreditava que a maldade era medida pelo tamanho da cabeça e onde as opiniões publicas influenciavam muito na vida das outras pessoas.
A personagem Grace é o grande destaque da obra, sem dúvidas. Ela é muito angelical, de uma inocência que acaba transpassando ao leitor o sentimento de que não é culpada. Toda a circunstancia que ela passa, a família pobre, os momentos traumáticos de sua vinda para o Canadá, a morte da mãe e a perca de uma grande amiga são pesos na balança que nos faz termos empatia por ela. E um dos motivos maiores para essa compaixão por uma jovem que seria assassina é que Margaret Atwood a construiu com humanidade ao nos mostrar uma personagem que apresenta a sua trajetória. Dificilmente nos sensibilizamos pelas pessoas que morreram no mesmo grau, até mesmo ao sabermos que a governanta estava grávida, porque esses não recebem um destaque tão grande. Por outro lado, Grace é ambígua, manipuladora ao apresentar um discurso que escolhe a dedo e da forma que quer para contar o que recorda.
O livro tem narrativas diversas. Em terceira pessoa mostrando algo mais amplo. Em segunda, do ponto de vista de Grace, outra do ponto se vista do Dr. Jordan e uma terceira epistolar, por meio de bilhetes e cartas.
Margaret Atwood se baseia nessa história para escrever a sua versão do que teria acontecido com uma das mulheres mais enigmáticas do Canadá, realidade se mistura com ficção especulativa e aguça a nossa mente com um crime que dividiu opiniões. Mas o que o leitor ganha com essa "reconstituição" dos fatos, é um grande romance envolvente, que nos prende logo nas primeiras páginas.
Ficha técnica
Título: Vulgo Grace
Título original: Alias Grace
Autor: Margaret Atwood
Tradução: Geni Hirata
Editora: Rocco.
Edição: 1
ISBN: 978-85-325-2353-2
Gênero: Rocco
Ano: 2017
Página: 512
Avaliação:
Resenha de número 359
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