Resenhado por Elidiane Galdino
O mais novo romance de Yannn Martel, autor de As Aventura de Pi, apresenta três histórias, cronologicamente separadas por décadas e, que aparentemente, são independentes umas das outras, mas que na verdade acabam por ser interligarem por pequenos detalhes.
Na primeira história Tomás é assistente do curador do Museu Nacional de Arte de Antiga, e acaba de perder seus parentes mais próximos. A medida que tenta conviver com a dor do luto, ele se debruça no estudo de uma diário do Padre Ulisses, que viveu no século XVII. No diário descobre referencias a uma relíquia produzida pelo Padre, que poderia abalar a Igreja Católica, escondida na região das Altas Montanhas de Portugal. Tomás pega emprestado um carro com seu afortunado tio, e parte em busca da misteriosa relíquia. A viagem é marcada por diversos infortúnios, que dificultam sua viagem, entre eles, não saber dirigir a difícil máquina que era um automóvel daquela época.
“O amor é uma casa na qual o encanamento traz novas emoções borbulhantes a cada manhã, onde os esgotos expelem as discussões e janelas claras se abrem para franquear a estrada do ar fresco da boa vontade. O amor é uma casa com fundação inabalável e teto indestrutível. Ele tivera uma assim, até ser demolida. Agora não tem um lar em lugar algum.” (P. 31)
Na segunda história, Eusébio médico patologista, faz plantão na passagem de ano de 1938 para 1939. Enquanto trabalha em um relatório recebe uma visita da sua esposa, que presenteia o marido com o novo livro da escritora Agatha Christie, da qual ambos são fãs. Maria discorre também, sobre sua teoria de que os romances policiais estão muito ligados a fé e a Deus. Logo em seguida o médico recebe outra visita de uma idosa, também chamada Maria, ela deseja que Eusébio faça uma autopsia no marido Rafael, para saber como ele viveu, e o que marcou sua vida.
“O triste fato é que não há mortes naturais, a despeito do que dizem os médicos. Toda morte é sentida por alguém como se fosse um assassinato, como o roubo injusto de um ente querido. E mesmo o mais afortunado entre nós se depara ao menos com um assassinato em sua iva: o próprio. É nosso destino. Todos vivemos um romance policial no qual somos as vítimas.” (p. 157)
Na terceira parte, o senador canadense Peter Tovy, vive na década de 1980, e acaba de perder sua amada esposa, e vive um momento de conflito com o filho. Eum uma viagem aos Estados Unidos, ele visita um centro de estudos de primatas, e resolve comprar o chimpanzé Odo. Parte com o primata para as Altas montanhas de Portugal, onde nasceu e passa a viver de forma simples, e em contato com a natureza e o animal.
“A dor é uma doença. Fomos assolados por suas cicatrizes, atormentados por suas febres, violados com seus golpes. Ela nos devorou como vermes, atacou-nos como piolhos, esfregávamos-nos até quase enlouquecer. Durante o processo ficamos como grilos, cansados como cães velhos.” (P. 191)
O livro acabou por me surpreender com o desenrolar de cada narrativa, e pela temática da perda e do luto. E como cada um recorre a elementos diferentes para superar a dor, seja pela fé, pelo amor ou a ciência. O autor conseguiu retratar muito bem o íntimo de cada personagem, além de levantar discussões sobre fé e ciência. Apesar de em alguns momentos a narrativa se tornar maçante pela grande quantidade de descrições, o livro foi uma leitura muito agradável e que de fato me surpreendeu positivamente.
Ficha técnica
Título: As Altas Montanhas de Portugal
Autor: Yann Martel
Título original: The High Mountains of Portugal (2016)
Tradutor: Marcelo Pen
Editora: Tordesilhas
Edição: 1
ISBN: 978-85-8419-054-6
Gênero: Romance Estrangeiro
Ano: 2017
Páginas: 312
Avaliação:
Resenha de número 343
0 Comentários
Obrigado pelo seu comentário!